Um dia, oh linda, embalada
Ao canto do gondoleiro,
Adormeceste inocente
No teu delírio primeiro,
– Por leito o berço das ondas,
Meu colo por travesseiro!
Eu, pensativo, cismava
Nalgum remoto desgosto,
Avivado na tristeza
Que a tarde tem, ao sol-posto,
E ora mirava as nuvens,
Ora fitava teu rosto.
Sonhavas então, querida,
E presa de vago anseio
Debaixo das roupas brancas
Senti bater o teu seio,
E meu nome num soluço
À flor dos lábios te veio!
Tremeste como a tulipa
Batida do vento frio…
Suspiraste como a folha
Da brisa ao doce cicio…
E abriste os olhos sorrindo
Às águas quietas do rio!
Depois – uma vez – sentados
Sob a copa do arvoredo,
Falei-te desse soluço
Que os lábios abriu-te a medo…
– Mas tu, fugindo, guardaste
Daquele sonho o segredo!…