Se eu me for primeiro do que você, não se esqueça de orar por mim alegremente. Não me visite na minha tumba porque eu não estarei lá.
Se eu me for primeiro do que você e bater saudade, procure-me nas estrelas, nas pétalas de flores, no primeiro raio matutino e também no último.
Se sentir saudade de mim, veja-me borbulhando na água de uma nascente, ouça-me numa sinfonia de Mozart, numa valsa de Strauss ou em qualquer retreta, destas que ainda tocam nas praças.
Se eu me for primeiro do que você, converse comigo como antes. Conte-me as suas alegrias, as suas mancadas, as suas piadas, as suas tristezas, reclinado no tronco de um jequitibá ou de qualquer outra árvore de copa ampla e bem verdinha, destas que dão sombra e ficam cheias de passarinhos.
Mas é certo que você também me encontrará nos flocos de nuvens, nos arco-íris e em especial, naquela gotinha espelhada e solitária pendente numa folha de arruda.
Se ouvir um solo de violão bem tocado, pense em mim. Se ouvir apitos de trem, pense em mim.
Se estiver dançando livre e leve em compasso ritmado como se o seu corpo e o ritmo fossem uma espécie de oração, pense em mim.
Se eu me for primeiro do que você, encontre-me numa sala de aula porque eu jamais desistirei de aprender e de ouvir os ensinamentos de muitos mestres e mestras. Estarei também numa noite de luar, mas não em qualquer luar. Tem que ser um luar do sertão.
Pense em mim quando chegar dezembro e começarem as primeiras canções natalinas, quando estiver montando a árvore e colocando os presentes sob ela, quando os fogos coloridos espocarem no céu à meia noite.
Também estarei na brisa leve que acaricia seu rosto e por que não, naquela rajada mais forte que chacoalha o arvoredo antes da chuva, no perfume da chuva quando se mistura com a terra e na doce canção que acontece quando ela desliza mansinha pelo telhado.
E se você for primeiro do que eu, saiba que não chorarei no seu túmulo. Orarei por você do meu jeito, farei muitos poemas pensando em você, rirei de todas aquelas coisas que o faziam rir, falarei para você que estou com saudade e verei a sua “onipresença” em todas as coisas onde você costumava colocar a sua Alma porque certamente é lá que você estará! Jamais estaremos separados.
Ainda que você esteja momentaneamente invisível aos meus olhos humanos, estará mais vivo e mais presente do que nunca em tudo aquilo que aqui na terra você amou, e na eternidade, onde me esperará e me receberá com alegria quando eu puder ir ao seu encontro.