O penteado

– Por que há de você perder seu bom humor, torcendo seu cabelo nessa barafunda? – perguntou meu pai quando me encontrou chorando de raiva porque eu era muito menina e não tinha a habilidade necessária para fazer o penteado em moda nos meus tempos de colégio.

– É moda! – lamentei-me. Só o meu nunca fica direito!

Olhando-me gravemente, papai sugeriu:

– Divida o cabelo ao meio, penteie-o para trás e amarre-o com
uma fita.

Atendi-o, embora desajeitadamente. Ele acrescentou:

– Agora use-o assim durante uma semana, e, se metade das meninas de sua classe não copiarem de você, dou-lhe cem reais.

Pensei comigo que ele era incrivelmente ingênuo. Cem reais, entretanto, era um bom dinheiro a que não podia resistir.

Tivesse eu chegado à aula vestida com a camisola de dormir,
minha agonia não teria sido maior. Mas, quando a semana acabou, quase todas as meninas de minha classe estavam usando o cabelo separado pelo meio, atado atrás com uma fita!

Quando narrei o sucedido a meu pai, ele comentou:

– Nunca tenha medo de uma ideia própria e, se ela for certa, siga para diante, sem se importar com o que faça toda a gente.

E, embora tivesse ganho a aposta, deu-me os cem reais.

Papai nunca poderia imaginar o quanto essa lição, tão simples, reforçou a minha personalidade e auxiliou-me, principalmente em situações em que, como sempre acontece, a pressão dos grupos ameaça anular-nos e nos converter em simples robôs.

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