O homem chegou em casa, naquela noite, trazendo o mau humor que o
caracterizava há alguns meses. Afinal, eram tantos os problemas
e as dificuldades, que ele se transformara em um ser amargo,
triste, mal humorado.
Colocou a mão na maçaneta da porta e a abriu. A luz acesa na cozinha
iluminava fracamente a sala que ele adentrou. Deteve o passo e
pôde ouvir a voz do filho de seus quatro anos de idade:
-Mamãe, por que papai está sempre triste?
-Não sei, amor, respondeu a mãe, com paciência. Ele deve estar preocupado com seus negócios.
O homem parou, sem coragem de entrar e continuou ouvindo:
-Que são negócios, mamãe?
-São as lutas da vida, filho.
Houve uma pequena pausa e depois, a voz infantil se fez ouvir outra vez:
-Papai fica alegre nos negócios?
-Fica, sim, respondeu a mãe.
-Mas, então, por que fica triste em casa?
Sensibilizado, o pai de família pôde ouvir a esposa explicar ao pequenino:
-Nas lutas de cada dia, meu filho, seu pai deve sempre demonstrar
contentamento.Deve ser alegre para agradar o chefe da repartição
e os clientes. É importante para o trabalho dele. Mas, quando ele volta para
casa, ele traz muitas preocupações.
Se fora de casa, precisa cuidar para não ferir os outros, e mostrar
alegria, gentileza, não acontece o mesmo em casa.
Aqui é o lar, meu filho, onde ele está com o direito de não esconder
o seu cansaço, as suas preocupações.
A criança pareceu escutar atenta e depois, suspirando, como se
tivesse pensado por longo tempo, desabafou:
-Que pena, hein, mãe? Eu gostaria tanto de ter um pai feliz,
ao menos de vez em quando.
Gostaria que ele chegasse em casa e me pegasse no colo,
brincasse comigo. Sorrisse para mim. Eu gostaria tanto…
Naquele momento, o homem pareceu sentir as pernas bambearem.
Um líquido estranho lhe escorreu dos olhos e ele se descobriu chorando.
Meu Deus, pensou. Como estou maltratando minha família.
E, ainda emocionado, irrompeu pela cozinha, abriu os braços,
correu para o menino, abraçou-o com força e lhe convidou:
-Filho, vamos brincar?