Michael e eu apenas demos uma olhadinha quando a garçonete veio e colocou os pratos em nossa mesa. Nós estávamos sentados em um daqueles pequenos restaurantes da cidade. Nem mesmo o cheiro de nossa comida, recém-chegada, era desafio para nossa entusiasmada tagarelice. Na realidade, a comida permaneceu quieta no prato por algum tempo. Nós estávamos nos desfrutando muito e não dava para parar só pra comer.
Nós rimos, lembrando do filme que tínhamos assistido na noite anterior e tínhamos discordado sobre o significado do texto que há pouco tínhamos lido em nosso seminário de literatura. Ele me falou sobre o momento em que ele tinha dado o passo drástico em direção à maturidade se tornando o Michael e recusando-se a responder por “Mikey”. Ele tinha doze ou quatorze anos? Ele não pôde se lembrar, mas ele recordou que sua mãe tinha chorado e dito que ele estava crescendo muito depressa.
Lhe falei sobre os morangos que minha irmã e eu ganhávamos quando visitávamos nossos primos na fazenda. Me lembrei que sempre acabava com os meus antes mesmo de voltar pra casa, e minha tia me alertava sobre uma possível dor de estômago. Claro que eu nunca as tive.
Enquanto continuava nossa doce conversa, meus olhos passearam pelo restaurante, parando em uma pequena mesa onde um velho casal se sentou. O vestido dela, estampado em flores, me pareceu bastante desgastado.
A cabeça dele brilhava tanto quanto o ovo que ele comia muito lentamente. Ela também comia o mingau de aveia muito lentamente,
quase tedioso.
Mas o que atraiu meus pensamentos foi o imperturbável silêncio deles. Enquanto entre Michael e eu, a conversa fluía de risos a sussurros, confissões e avaliações, a quietude daquele casal me chamava a atenção. Tão triste, eu pensei, não ter nada para dizer. Não haveria, na história de suas vidas, uma página qualquer que eles não pudessem contar um ao outro? E se isso nos acontecesse?
Michael e eu pagamos nossa conta e nos levantamos para deixar o restaurante. Quando passávamos pela mesa do velho casal, eu derrubei minha carteira acidentalmente. Agachando-me para apanha-la, notei que por baixo da mesa, suas mãos livres estavam carinhosamente entrelaçadas. Eles tinham estado, o tempo todo, segurando um a mão do outro!
Eu me levantei, maravilhada com o simples e profundo ato de ligação que tive o privilégio de testemunhar. A suave carícia deste homem em sua esposa não só encheu aquele canto que me parecia vazio, mas tocou meu coração. Não era um silêncio desconfortável. Não, era o conforto relaxante de um amor suave que não precisava de palavras para se expressar. Eles provavelmente tinham se compartilhado desde a manhã, e talvez hoje não seja diferente de ontem, mas eles estavam em paz com isso, e entre si.
Talvez, eu pensei enquanto saíamos, não será ruim se algum dia nos tornarmos um casal igual àquele velho e romântico casal. Sim, será amável e agradável.