Na vida, a gente somente depende de alguém que confie na gente, que não desista da gente. Uma âncora, um apoio, um ferrolho, um colo.
Fabrício Carpinejar
A gente reclama muito da dependência, mas como é maravilhosa a dependência, confiar no outro, confiar no outro a ponto de não somente repartir a memória, mas repartir as fantasias. Confiar no outro a ponto de esquecer quem se foi assim que o outro esteja junto, é talvez chegar em casa e contar seu dia e só sentir que teve um dia quando a gente conta como foi. É como se o ouvido da outra pessoa fosse nossos olhos. Amar é uma confissão. Amar é justamente quando um sussurro funciona melhor que um grito. Amar é não ter vergonha de nossas dúvidas, é falar uma bobagem e ainda se sentir importante. É lavar louça e nunca estar sozinho. É arrumar a cama e nunca estar sozinho. É aquela vontade danada de andar de mãos dadas durante o dia e de pés dados durante a noite.
Fabrício Carpinejar
e você não faz questão de conversar, não ama mais.
Se a pessoa telefona e acredita que não é nada e nem atende e deixa para depois, não ama mais. Se ela não é mais prioridade, não ama mais.
Se toda história é remorso, não ama mais.
Se já fica irritado somente em escutar a voz, não ama mais.
Se arruma um jeito de retardar a volta para casa, não ama mais.
Se não festeja os finais de semana de folga, não ama mais.
Se não resta vontade de narrar a sua vida, não ama mais.
Se não faz programas a dois, não ama mais.
Se implica com a rotina, não ama mais.
Se beija virando o rosto, não ama mais.
Se empurra a comida com a água, se empurra a convivência com a televisão, não ama mais.
Se não é capaz de esperar o outro terminar de comer para levantar, não ama mais.
Se ameaça antes de ouvir, não ama mais.
Se acredita que a razão tem dono e cobra aluguel, não ama mais.
Se deita em horário diferente de propósito, não ama mais.
Se criou o vício de só falar mal da relação para os amigos, não ama mais.
Se não se importa onde o outro vai e quando volta, não ama mais.
Se o ciúme desfeito não vira saudade, não ama mais.
Se aproveita um erro para criar culpa, não ama mais.
Se a desculpa vem após tortura, não ama mais.
Se não tolera atrasos, se não brinca com os defeitos, se não releva discordâncias, se não procura soluções, não ama mais.
Amor é proporcional à paciência. Quanto mais você tem, mais você ama. Quanto menos você tem, menos você ama.
Fabrício Carpinejar
Se amor fosse por afinidades, estaríamos resolvidos.
Se amor fosse por semelhanças, estaríamos tranquilos.
Se amor fosse por amizade, estaríamos calmos.
Mas amor não é feito de razão, não é uma decisão, não é uma escolha consciente.
Amor é um tormento, um redemoinho de pássaros, uma inquietação espantosa.
Não há como estabelecer: vou amá-lo, vou amá-la, apesar de ser a pessoa ideal para estar conosco.
As pessoas ideais jamais são amadas. Elas são desejadas, mas não amadas. Elas são admiradas, mas não amadas.
Não há como se convencer de que se gosta de alguém, infelizmente, assim seria mais fácil.
Ama-se quem a gente menos espera, quem mais nos surpreende, quem mais nos irrita, quem mais nos desafia.
O amor é do contra, o amor é oposição, o amor é uma insegurança atenta.
Amor é a primeira vista ou não é amor – paga-se com a vida antecipadamente. Não é parcelado, não é um costume agradável.
O amor não vem com o tempo, fecha o tempo.
Pode se apaixonar, pode ter arrebatamentos, atração, gana de ficar, mas amor mesmo é fulminante desde o início e sempre.
Não é uma negociação, não é uma definição pelo melhor. É uma imposição química, emocional, seja como for.
Amor não é dote, não é indicação de pais e amigos, não é perfil equilibrado. É um erro inspirado. Aquele que erra ao amar acerta o amor.
Por isso, é tão difícil amar. Por isso, é tão difícil deixar de amar.
Amor não é caminhar na chuva, é ser sorteado pelo relâmpago.
Talvez encontre alguém que adore conversar, adore transar, adore estar junto, mas não significa que amará. Os dias felizes serão agradáveis, os dias tristes serão agradáveis, mas não será suficiente. Faltará aquela intensidade explosiva.
Com o amor, talvez brigue na hora de conversar, na hora de transar, na hora de estar junto, só que se enxergará inteiro como nunca, porque tudo faz sentido na falta de sentido, tudo é o dobro de ardor. Os dias felizes serão os mais felizes, os dias tristes serão os mais tristes. Não terá a mornidão, a neutralidade, o purgatório.
Amor é extremo: céu ou inferno. O jogo da amarelinha é feito de pedras, não de flores.
Amor é contundência implacável, não é adiamento e concordâncias.
Ou você acredita no amor ou confia no amor. São duas posturas distintas.
Quem acredita no amor não ama, tem vontade de amar, faz uma volta ao mundo para se convencer que está amando, é capaz de fingir ou mentir para si que está amando. No fundo, sabe que está sozinho, que vive racionalmente, que tem o domínio da situação, que tem condições de sair da relação a qualquer momento e não sofrerá absolutamente nada. Acreditar no amor é forçar o amor. Inventar o amor. Forjar o amor.
Já confiar no amor é quando não temos mais controle sobre o próprio sentimento: a mera possibilidade de uma separação é devastação. Confiar no amor é aceitar o amor. Obedecer ao amor. Sofrer com o amor.
Quem acredita no amor vive se explicando. Quem confia não precisa nem de explicação: o amor é uma realidade incontornável.
Fabrício Carpinejar
Não somos a única fonte de felicidade de uma pessoa. Ela foi feliz antes de nos conhecer e será também depois. Esta noção salva casamentos, elimina restrições e chantagens, acentua o livre-arbítrio, valoriza a relação. Não é que ela está comigo porque não consegue ser feliz longe, é que, mesmo podendo ser feliz longe, ainda é mais feliz comigo. Somos a melhor opção, não a única. Somos a companhia predileta, não a que restou. O certo é se enxergar o destino de uma alegria, em vez de sua viciada origem. No momento em que condicionamos o bem-estar, prosperamos o pânico. Funda-se a convivência pelo medo de perder o que se tem, jamais pela confiança de ter sido escolhido e eleito todo dia. Não podemos sequestrar a felicidade do outro no casamento ou no namoro, como se fosse nossa, como se só dependesse de nossa proximidade, vinculando a alegria ao egoísmo dos laços. Maturidade é ser indispensável justamente por deixar a porta aberta.
Fabrício Carpinejar
E te faz feliz, agarra. Não solta, não se despede. Se te faz feliz, pede pra ficar, faz juras, troca pés por mãos e palavras por gestos. Se te faz feliz, não complica e não se explica. Felicidade tem pavor de ficar sozinha, de ser esquecida e acabar.
Fabrício Carpinejar
O amor não morre de velhice, em paz com a cama e com a fortuna dos dedos. Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento. O amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade…
Fabrício Carpinejar
Quando amamos platonicamente, o amor pode durar muito tempo. Pois não tem ninguém para estragar nossa idealização. Não há convivência para nos desafiar. É uma paixão estanque, feita de sonho e névoa. É uma vontade desligada da realidade. Temos a expectativa intacta, longe de contratempos. Acordamos e dormimos com o mesmo sentimento longe de interrupção em nossa fantasia.
Fabrício Carpinejar
Eu não uso somente as gavetas para guardar recordações. Eu uso os bolsos dos casacos, da calça. Os fechos da mochila, o fundo da mala. O que eu mais gosto é me comover a toa com uma lembrança antiga. É de repente colocar um casaco, colocar um terno, sem querer mexer no bolso e encontrar sua memória viva e reconstituir o endereço e o sentido daquele bilhetinho. A vida é feita de várias repescagens. Não guardo tudo num único lugar. Guardar em um único lugar é túmulo. Deixe a sua vida espalhada pela casa.
Fabrício Carpinejar
Não existe dia ruim. Sempre há chance do dia ser feliz.
Mesmo que seja tarde. Mesmo que seja de madrugada. Uma gentileza salva o dia.
Não desista da alegria somente porque ela se atrasou.
Fabrício Carpinejar
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