A pequenina luz azul

Certa manhã, o sultão El-Khamir, disse ao prefeito:

– Esta noite avistei ao longe uma pequenina luz azul e desejo saber quem passou a noite a velar. Ordeno-lhe apurar a razão desta vigília.

– Obedeço à Vossa Majestade! Porém, é inútil esse inquérito, pois aquela luz provinha do oratório da minha casa! Eu e minha família passamos a noite pedindo a Deus pela saúde de Vossa Majestade!

– Obrigado meu bom amigo – Sinceramente comovido acrescentou – Saberei corresponder aos cuidados que lhe mereço.

O rei, então, chamou o grão-vizir Moallin
– Resolvi recompensar com mil dinares de ouro o prefeito.

– Por Alá! É muito dinheiro! Que teria feito ele para merecer?

– Praticou uma ação nobre e sublime – E narrou o caso da luz.

– Permita-me ponderar – Estais sendo iludido, posso provar, ele não tem família e só sabe orar nas Mesquitas, quando obrigado.

– Mas… E a luz azul, de onde vinha?

– Vejo-me obrigado a confessar – Passei a noite cogitando a cerca dos graves problemas e das questões que Vossa Majestade deve resolver hoje! Juro pelo Alcorão que essa é a verdade!

– Grande e esforçado amigo! Jubiloso disse: – Tereis uma recompensa digna de vossa dedicação!

O rei chamou o general Muhiddin e contou que estava resolvido a conceder o título de xeque de Lohéia ao grão-vizir Moallin. E o bom monarca, contou ao general a história da luz azul.

– Vós acreditastes nisso? Peço provar que ele mentiu como um infiel!
Mentira o prefeito, o grão-vizir! Como poderia, o rei, apurar a verdade? Modesto, o general confessou:

– Queria ocultar a verdade mas me vejo obrigado a revelar que aquela pequenina luz azul provinha de minha tenda – E o general não hesitou – Com receio que os revoltosos atacassem a noite, acampei nas cercanias da cidade, para maior garantia da vida do rei.

Que heroísmo! O sultão não sabia como agradecer. E depois que o general saiu cogitou, “Vou lhe conceder o título de príncipe e uma pensão anual de vinte mil dinares! Não… Merece muito mais – Salvou-me a vida.. A coroa… Como não chegasse a uma conclusão satisfatória consultou Ali-Effendi, seu velho mestre e conselheiro.

O sábio ponderou:
– Não deves acreditar no prefeito, nem no grão-vizir, nem no general. Creio que a tal luz provinha do farol de El-Basin.

O rei surpreso:
– Então era a luz do farol!

Naquela mesma noite, depois da última prece, o rei chegou à varanda para olhar o panorama da cidade, que dormia. Surpresa estranha: como todos já sabiam sobre as recompensas, a cidade estava extraordinariamente iluminada. Nunca se vira tanta luz azul! E o crédulo rei compreendeu então, que para cada súdito honesto e dedicado havia um milhão de mentirosos e bajuladores.

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