Adivinhe quem é?

Alguns meses antes de eu nascer, meu pai encontrou um estranho que era novo em nossa pequena cidade. Desde o início, meu pai ficou fascinado com este encantador recém-chegado e logo o convidou para viver com a nossa família. O estranho rapidamente foi aceito e estava por perto para receber-me no mundo alguns meses mais tarde.

Enquanto cresci, nunca questionei seu lugar em nossa família. Em minha mente jovem, cada membro tinha um nicho especial. Meu irmão mais velho, Bill, era meu exemplo. Fran, minha irmã mais nova, deu-me a oportunidade de ser o irmão maior e desenvolver a arte de importunar. Meus pais eram instrutores grátis – minha mãe me ensinou a amar a palavra de Deus e meu pai me ensinou a obedecê-la. Mas o estranho era o nosso contador de estórias. Podia tecer os contos mais fascinantes. As aventuras, os mistérios e as comédias eram conversas diárias. Podia manter nossa família enfeitiçada a noite inteira.

Se eu quisesse saber sobre política, história ou ciência, ele sabia tudo. Sabia sobre o passado, entendia o presente, e aparentemente podia prever o futuro.

O estranho era um tagarela incessante. Meu pai não parecia se importar, mas minha mãe às vezes se levantava calmamente – enquanto o resto de nós ficava fascinado com uma de suas histórias – e ia para o seu quarto, ler sua Bíblia e orar. Pergunto-me agora se ela orava para que o estranho fosse embora.

Veja, meu pai conduziu nosso lar com certas convicções morais. Mas este estranho nunca sentiu-se na obrigação de honrá-las. A profanidade, por exemplo, não era permitida em nossa casa – nem de nós, de nossos amigos e nem dos adultos. Nosso visitante de longa data, entretanto, usava palavras ocasionais que queimavam as minhas orelhas e deixavam meu pai embaraçado. Que eu saiba, o estranho nunca foi confrontado. Meu pai era abstêmio e não permitia álcool em nosso lar. Mas o estranho sentia-se como se nós precisássemos da exposição de outros meios de vida. Oferecia-nos cerveja e outras bebidas alcoólicas frequentemente. Fez cigarros parecerem saborosos. Conversava livremente (até demais) sobre sexo. Seus comentários eram às vezes descarados, às vezes insinuantes e lascivos, e geralmente embaraçosos. Sei agora que meus conceitos prévios sobre o relacionamento homem/mulher foram influenciados por este estranho.

Quando revejo isto, acredito que foi graça de Deus que o estranho não tenha me influenciado mais. Uma e outra vez ele se opôs aos valores de nosso lar e aos princípios da palavra de Deus. Mas ele raramente foi repreendido e nunca se pediu que partisse.

Mais de 30 anos se passaram desde que o estranho foi morar com nossa família. Nem de longe ele encanta meu pai como fazia naqueles anos. Mas se você for à casa de meus pais hoje, você ainda o verá sentado num canto, esperando por alguém para escutá-lo falar e observar seus quadros.

Seu nome? Nós sempre o chamamos TV.

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