Olhando para cima

A moça era alegre, comunicativa e jovial.

Certo dia, porém, quando voltava do trabalho, sofreu um acidente que resultou numa cicatriz visível e feia. Partia do queixo e se estendia pelo pescoço.

Por causa dessa marca, a linda jovem perdeu todos os seus encantos na vida. Passou a usar golas altas e mantinha-se de cabeça baixa o máximo de tempo possível, a fim de esconder das pessoas a feia cicatriz que, a seu ver, maculou toda a graça e beleza do seu rosto jovem.

Uma tarde, estando apenas ela no escritório onde trabalhava, chegou um rapaz à procura do chefe. Não tendo para quem apelar, a moça o atendeu. Procurou ser amável, atenciosa, precisa.

Prestou-lhe todas as informações requeridas, com delicadeza, e anotou o recado que o moço deixava despedindo-se dele com muita cordialidade.

O rapaz ficou impressionadíssimo com a personalidade marcante da moça. Voltou muitas outras vezes àquele escritório, mas só a via de cabeça baixa. Inicialmente a julgou assoberbada de tarefas, mas por fim concluiu que a verdade não era essa.

Certa tarde se propôs acompanhá-la a distância, até descobrir o seu destino.
Não havia andado muito quando a viu encostar-se junto a uma marquise de um determinado ponto de ônibus.

Aproximou-se e, chamando-lhe a atenção, foi-lhe falando com cuidado, porém, sem maiores rodeios:
– Por que é que você vive escondendo esses olhos tão cheios de brilho e beleza? Por que nega o seu sorriso franco e sincero, que completa um tão simpático semblante? Não lhe soa como um pecado esconder do próximo uma tão maravilhosa criação de Deus?

Sentindo-se sacudida pela palavra pecado, a moça tentou justificar a sua atitude, mostrando-lhe a cicatriz que marcava o queixo e o pescoço.
– Minha filha, creia – disse-lhe o jovem carinhosamente – se você não me mostrasse essa cicatriz, eu jamais a teria notado. Encantei-me tanto ao ver o harmonioso conjunto que compõe o seu rosto, que não tive tempo nem razão para observar essa tão insignificante marca que pode ser corrigida. Quero que pense seriamente no que acabo de lhe dizer.

A moça encheu-se de nova confiança e já não se amargurava mais com a cicatriz.
Ficou noiva do rapaz, casou-se mais tarde, vivendo ao lado dele uma vida feliz e cheia de novas perspectivas, porque o marido lhe ensinou a olhar para cima!

A depressão e o abatimento de espírito tendem a fazer com que o homem mantenha baixos os olhos, deixando de contemplar as múltiplas belezas que o cercam. Força-o a fechar-se dentro de si mesmo, como que vencido ante o golpe da derrota que lhe aponta o fim. Tira-lhe a visão de uma nova tentativa sugando-lhe o ânimo, a esperança e a capacidade de uma nova investida, um outro começo.

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