Um dia eu estava na frente de casa secando meu carro. Eu tinha acabado de lavar o carro e esperava minha esposa para sair para o trabalho. Vi, descendo a rua, um homem que a sociedade consideraria um mendigo. Pela aparência dele, não tinha carro, nem casa, nem roupa limpa e nem dinheiro. Tem vez que você se sente generoso mas há outras vezes que você não quer nem ser incomodado. Este era um dia do “não quero ser incomodado”.
– Espero que não venha me pedir dinheiro. Pensei.
Não veio. Passou e sentou-se em frente, no meio-fio do ponto de ônibus e não parecia ter dinheiro nem mesmo para andar de ônibus. Após alguns minutos falou,
– É um carro muito bonito.
Sua voz era áspera mas tinha um ar de dignidade em torno dele.
Eu agradeci e continuei secando o carro.
Ele ficou lá. Quieto, sentado enquanto eu trabalhava.
O previsto pedido por dinheiro nunca veio.
Enquanto o silêncio entre nós aumentava, uma voz interior me dizia,
– Pergunte-lhe se precisa de alguma ajuda.
Eu tinha certeza que responderia sim mas, atendendo à insistente voz interior…
– Você precisa de ajuda? Perguntei.
Ele respondeu com três simples palavras acompanhadas de um sorriso que me deram uma sacudida.
– Quem não precisa?
Eu precisava de ajuda. Talvez não para a passagem do ônibus ou um lugar para dormir, mas eu precisava de ajuda.
Peguei minha carteira e lhe dei dinheiro, não somente o bastante para a passagem do ônibus mas também para conseguir uma refeição e um abrigo.
Aquelas três palavras ainda soam verdadeiras.
Não importa o quanto você tem, não importa o quanto você realizou, você também precisa de ajuda. Não importa o quão pouco você tem, não importa o quão cheio de problemas você esteja, até mesmo sem dinheiro ou um lugar para dormir, você
pode dar ajuda. Mesmo que seja apenas um elogio, você pode dar.
Você nunca sabe quando poderá ver alguém que parece ter tudo mas que, na verdade, está esperando de você algo que não tem.
Talvez o homem fosse apenas um desconhecido desabrigado que vagueia pelas ruas. Talvez fosse mais do que isso. Talvez ele tenha sido enviado por uma força maior e sábia para ensinar à uma alma acomodada em si mesma.
Talvez Deus tenha olhado pra baixo, chamado um anjo, vestido-lhe como um mendigo e, a seguir, disse,
– Vá encontrar-se com aquele homem que limpa o carro,
ele precisa de ajuda.
“Quem não precisa?”