Você já prendeu o dedo numa porta? Isso dói, não dói? E bater o queixo no chão, dói? Um tapa. Um soco. Um pontapé. Doem, não? E morder a língua? Mas o que mais dói é a saudade! Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu.
Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades todas, mas a saudade mais dolorida é de quem se ama. Saudades da pele, dos beijos, do cheiro. Saudade da presença e até da ausência. Você podia estar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ficar um dia sem vê-lo. Ele, um dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade sem fim. Saudade é não saber. É não saber se ele ficou com gripe no inverno. Não saber se ela continua pintando o cabelo.
Se ele ainda usa a camisa que você deu. Se ela foi ao dermatologista como prometeu. Se ele aprendeu a entrar na internet. Se ela aprendeu a estacionar entre dois carros. Se ele continua dançando, se ela continua lhe amando. Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficam comprimidos. Não saber como frear as lágrimas diante da música. Não saber como vencer a dor do silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber se ele está com outra e ao mesmo tempo querer. É não saber se ela está feliz e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber quem se ama e ainda assim doer.