História da saudade

Certa vez uma moça estava andando a cavalo, feliz da vida com o vento batendo em seu rosto quando de repente topou com uma pedra. O cavalo se assustou e ela acabou caindo no chão.

Algum tempo depois, acordou no hospital, sozinha, e perguntou onde estava. Uma enfermeira respondeu que ela tinha sofrido um acidente e que estava internada. A moça perguntou em que hospital estava e em que cidade. A enfermeira respondeu que estava na cidade Ibaporã, no hospital municipal. A moça disse:

– Que cidade é essa? Eu nunca ouvi falar! Quero ir pra casa!

– Onde você mora? – A enfermeira perguntou.

– Eu… não sei…, não me lembro.… Não me lembro também meu nome. Nem o que faço pra sobreviver, quem são meus pais, se sou casada. Não lembro de nada. E agora? O que farei? Não sei nada sobre mim.

A moça recebeu alta e saiu perambulando pelas ruas da estranha cidade, sem saber que rumo dar à sua vida. Não tinha nenhum pertence. Nem mesmo um telefone celular e muito menos uma identidade.

Sem saber o que fazer, pensou que precisava comer. Procurou um emprego em troca de comida. Arrumou emprego em uma livraria. O dono era bastante bondoso e muito inteligente. A moça contou o que tinha lhe acontecido e ele lhe ofereceu um quarto e um pequeno salário.

O livreiro resolveu que ela deveria ter um nome, mesmo que de mentira. A moça pensou e achou que poderia chamar-se Saudade. Nos finais de semana, cansada de tanto trabalhar, Saudade ia a procura de pessoas.

Queria fazer amizades. Quando conhecia alguém, perguntava tudo o que ela queria saber sobre si mesma. Perguntava primeiro o nome, onde morava e se a pessoa sabia quem era. Um dia conversou com um andarilho e lhe perguntou quem ele era. Ele lhe respondeu:

– Não sou ninguém, sou só alguém que anda por aí sem rumo.

Intrigada com a semelhança com sua estória, Saudade quis saber mais.

– Mas como assim? Você não tem nome? Nem família? Nem sonhos.

– Eu os tive, respondeu o homem. Mas hoje não importam mais. Deixei tudo pra trás e segui viagem. Tinha uma profissão, uma família e um bom nome. Mas um belo dia me dei conta de que não sabia quem eu era. Resolvi abandonar tudo e sair pelo mundo à procura de mim. Até agora não descobri quem sou. Só sei que não tenho saudade da vida que levava. Me sinto mais feliz assim, livre.… Sabe como é? Não ter que ser alguém que faz alguma coisa importante.

Saudade ficou emocionada com a narrativa do homem. Contou-lhe que estava na mesma situação, mas não por vontade própria, pois tinha sofrido um acidente. Confessou que ao contrário dele se sentia perdida, sem identidade e sem rumo, mas que admirava sua coragem.

O homem disse à saudade.

– Na verdade, nenhum de nós sabe quem é. Apenas anda por aí com a frágil segurança de saber. Resolvi apenas assumir que não sei quem sou. Você está na mesma condição. Considero isso uma grande sorte. Porque não tenta descobrir quem é a partir de agora e deixa o passado de que não se lembra para trás?

Saudade pensou e respondeu:

– É verdade. Posso tentar, aliás, não tenho nada mesmo do que ter saudade.

Saudade mudou de nome, tornou-se Procura. Procura Infinita.

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